Em seus olhos…

“Causar emoção, reorganizar as coisas, traduzir o introduzível, registrar o inexistente, 
dar cores à rotina acinzentada do cotidiano e tudo mais o que se pensar 
que acrescente à aventura humana é poesia”.
Martha de Medeiros

De alguma forma o dia cinzento e frio começou a ganhar vida quando vi nos olhos dele o quanto os caminhos que estávamos seguindo eram belos e cheios de alegria. O sol nasceu, aos poucos o orvalho da manhã evaporou e a umidade percebida no ar encheu os pulmões de algo inexplicavelmente bom e abasteceu os nossos ânimos por uma longa temporada. Eram os dias primaveris desajustados, as chuvas de verão antecipadas, que cobriam os jardins com vida vinda do céu, alguns arco-íris e regava plantas e pessoas. Estas que por vezes punham-se a correr e por outras brincavam nas pequenas poças que formavam-se nas calçadas esburacadas da cidade. Tínhamos um tempo bom, apesar de a meteorologia insistir em dizer que o céu estava entre nuvens. A qualidade dos dias não era medida pelas gotas vindas do céu ou pelos raios de sol. Medíamos pela intensidade da relação que construíamos com as pessoas próximas a nós. Isso que importa de verdade. Os laços invisíveis entre duas ou mais pessoas. Era assim que transformávamos dias cinzas em dias ensolarados, fortalecendo o lado humano, sendo gratos e ajudando o próximo. Era isso que o que eu notava nos olhos dele quando começava um novo dia, eu via bondade e uma vontade enorme de ser e fazer melhor.
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