na minha estante: O lado bom da vida

Já faz algum tempo que li este livro e o que posso dizer sobre é que é MIL vezes melhor do que o filme. O filme não consegue contar com tantos detalhes os terrores mentais que transtornam Pat, ou todas as relações construídas ao seu redor. A preocupação de sua mãe, a distância de seu pai, o cuidado do irmão, as ajudas oferecidas pelo melhor amigo, a amizade com um colega de hospital psiquiátrico, e a relação maluca entre um homem e uma mulher passando por situações difíceis. 
Acredito que o livro nos ensina a encontrar uma outra perspectiva sobre as situações que nos cercam e que às vezes o mais absurdo pode ser o melhor.
Pat Peoples, um ex-professor de história na casa dos 30 anos, acaba de sair de uma instituição psiquiátrica. Convencido de que passou apenas alguns meses naquele “lugar ruim”, Pat não se lembra do que o fez ir para lá. O que sabe é que Nikki, sua esposa, quis que ficassem um “tempo separados”. 
Tentando recompor o quebra-cabeças de sua memória, agora repleta de lapsos, ele ainda precisa enfrentar uma realidade que não parece muito promissora. Com seu pai se recusando a falar com ele, sua esposa negando-se a aceitar revê-lo e seus amigos evitando comentar o que aconteceu antes de sua internação, Pat, agora um viciado em exercícios físicos, está determinado a reorganizar as coisas e reconquistar sua mulher, porque acredita em finais felizes e no lado bom da vida. 

Nota: ★ ★ ★ ★ ★ 
Autor: Matthew Quick
Tradução: Alexandre Raposo
Editora: Intrínseca
Páginas: 254
Ano: 2013

O que você pode exigir?

O que você pode exigir? Aquilo que você pode oferecer. Quero esclarecer que está longe da minha intenção definir o que é exigível, mas existem determinadas situações que é preciso colocar em prática o velho ditado “você colhe aquilo que planta”. Parece tão simples, não é mesmo? Se você quer amor, ame. Se quer respeito, respeite. E assim por diante. Você não pode simplesmente exigir do próximo algo que você nunca faz ou oferece. Você não pode esperar a pessoa “perfeita” se você, humano, tem também tantos defeitos e imperfeições. Não acha que é demais exigir do próximo o que você não exige de si? Talvez, por um momento, você precise parar e ver o que você está oferecendo ao próximo. Será que você está oferecendo um sentimento agradável, que faça com que as pessoas queiram estar contigo? Será que você não anda muito triste, oferecendo tristeza e colhendo lágrimas? Seja tolerante, as pessoas não são perfeitas e não estão aqui para atingir as expectativas de ninguém. Entenda que as situações nem sempre serão do modo que você imagina e que é preciso ser flexível. Rigidez quebra, flexibilidade te permite ir para diversos lados permanecendo ainda intacto. Já pensou em quantas portas você vem mantendo fechadas pelo simples fato de exigir de mais?

Parte VIII – Pra me fazer dormir

E estava tarde, frio e um pouco escuro. A iluminação pública anda meio precária nessa região, o que torna tudo diferente. Por quê? Porque de repente, no meio daquela parte tensa daquele filme de terror a luz acaba e ficamos ali, ambos assustados sem coragem de sair do lugar. Então nos acostumamos à pouca luz e tateamos os móveis em busca de algo que ilumine pelo menos um cômodo. Uma oportunidade única de deixar o ambiente a luz de velas, sem assustar, é claro. Ele sempre pensa que quero alguma coisa.
E ele está certo.
Quero ele ao meu lado, mas não precisa ser vinte e quatro horas por dia, porque não dá tempo de sentir saudades. Um tempinho bem aproveitado já está valendo. Quero ele me cuidando e eu cuidando dele. Cafuné até dormir. Beijinhos, abraços, um aconchego em momentos que parece que o mundo vai desabar e eu momentos que a felicidade parece quer se expandir. Cantar a vida. Canta pra mim? Não há momento que eu goste mais do que quando estamos abraçados e de repente ele canta pra mim. Me faz ir longe. Me faz adormecer calma e docemente em seus braços. Canta pra mim e me encanta. Sempre.

Cavalo de tróia

E de repente o que resta é apenas uma história virtual, dessas que servem para encher os olhos e bocas dos outros, que alimenta os ouvidos daqueles que não tem nada de importante a dizer.
De repente tudo o que um dia vivemos não passa de dados arquivados num mundo nas “nuvens” que não se pode apagar facilmente.
O que fica sobre a cama são apenas lembranças e lençóis desarrumados.
O computador contaminado é apenas uma das muitas coisas que você esqueceu por aqui e que eu guardo por não saber o que fazer com aquilo que ainda está em mim.
Seguimos assim: ruas diferentes, olhares atravessados, lágrimas contidas, sorrisos adormecidos e mil resultados de busca que não levam mais a caminho algum. Um amor que um dia foi e agora não é. Nada.
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Até vejo

Engraçado como posso imaginá-lo, neste exato momento, deitado de um jeito desleixado na cama bagunçada de solteiro, encarando o teto e pensando no que deveria fazer. É como se pudesse vê-lo aqui, na minha frente, apesar dos quilômetros de distância que nos separam.
Eu sei que ele vai permanecer neste estado latente, largado, despreocupado por mais tempo do que gostaria. E não é por mal. Mas é que o tempo passa e de repente já é noite, fim de mês e os momentos passaram e ficamos ali, fitando a parede.
E ele me falará das noites em claro e de quantas vezes pensou no que faria e não fez. Falará da mudança das estações, do cheiro úmido do ar nas noites de verão e também do quão feliz ficou ao encarar a lua cheia num céu todo estrelado. Mas ele não falará do que sentiu quando ficou a encarar o teto e as paredes frias do apartamento. Não falará dos medos e nem da ansiedade que o corroíam por dentro. É duro demais e ele não quer me preocupar com isso.
Mas eu digo e repito toda noite para ele: “eu posso, confia em mim”.

Sorumbática

Foi o final de tarde mais adorável dos últimos tempos: o céu negro iluminava-se a cada raio que atingia a terra e berrava a cada trovão que irrompia na atmosfera. O ar, apesar de tudo, era quente. Um dia típico de verão.
Ela, no entanto, estava fria, por dentro e por fora. O olhar vagava perdido no horizonte e em pouquíssimos e raros instantes perdia-se encarando o chão. Era a melancolia. Antiga e detestável companheira de dias assim. Não dos dias adoráveis, esses costumavam vir acompanhados de sorrisos e cantares bobos, desses de despertar alegrias nos outros, mas sim dos dias de pensamentos ruins. Nesses tudo parecia interferir negativamente em seu estado de espírito.
Mesmo assim ela lutava internamente para vencer o campo negativo que formava a sua volta, às vezes vencia, mas em outras entregava-se ao seu lado taciturno. Deitava de costas na cama e encarava o teto, colocava pra tocar uma música deprimente ao fundo e pensava em tudo o que precisava mudar em si.
Não era tarefa fácil. Dura e rígida consigo, cobrava coisas de si que jamais exigiria de outra pessoa. Então punha-se a chorar, dormia, despertava, chorava mais um pouco e aos primeiros raios de sol encarava o espelho e repetia para si: hoje é um novo dia.

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