Parte VI

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Ao final do banquete, ela se levantou e levou a louça até a pia. Parou por um tempo. Segurava a xícara firme na mão e sem encará-lo disse: ‘Acho que tá na hora de ir. Já abusei demais do favor que te pedi inicialmente’. Ela colocou a xícara na pia e se encaminhou para a sala. Começou a recolher as poucas coisas que havia trazido naquela noite chuvosa: as roupas ainda úmidas, aquele velho all-star, a boina que ganhou dele na viagem de férias, o cachecol preferido e a carteira. Ele não conseguia esconder o desapontamento diante da cena. Afinal, aquele momento todo estava sendo único para ele. Ele não resistiu: ‘Mas você está bem mesmo para ir?’. Ela parou, ainda sem encará-lo, deixou uma lágrima escorrer pelo rosto: ‘Na verdade não. E acho que nunca estarei. Mas eu já abusei demais’. Desabou a chorar, e no choro emendou palavras. Palavras que ele não conseguiu entender. Então, num impulso, ele a virou de frente para ele, ergueu seu rosto e a beijou. E a cada segundo, a sala parecia menor e o mundo parecia girar mais rápido. Abraçaram-se. Olharam-se. Ela já não chorava mais. Ele perfurou o vazio daquele momento: ‘Eu sei que ambos erraram nessa história. E eu também sei que estamos machucados, mas e se a gente tentasse se curar juntos?’ Ela se largou no sofá, colocou os braços sobre as pernas, as mãos segurando o rosto, como se estivesse sufocando, como se fosse vomitar. Talvez estivesse mesmo sufocada, nauseada, era tanta coisa em tão pouco tempo. Não sabia o que responder. Ele a compreendeu. Sentaram-se novamente lado a lado. E permaneceram ali em silêncio por um bom tempo.
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[continua]
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Me.W.o